Até ao 25 de abril, a censura aos livros e aos escritores fazia parte da rotina. A perseguição da PIDE não dava tréguas, com receio de que estes livros proibidos comprometessem o regime.

Durante 48 anos, Salazar teceu uma manta de silêncios, com foco especial em tudo o que considerava “propaganda subversiva”. A censura, prática comum a todas as ditaduras, subjugou os que tinham a escrita como profissão, quer fossem portugueses ou estrangeiros.

Da lista negra de autores portugueses faziam parte Urbano Tavares Rodrigues, Miguel Torga, Alves Redol, Natália Correia, Herberto Hélder, Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira, entre outros. Nos estrangeiros apareciam Jorge Amado, Jean-Paul Sartre e todos os que defendessem a ideologia marxista. Fugir ao lápis azul passou a ser uma arte construída em subtilezas e truques. E uma forma de resistir.

Existe melhor forma de celebrar o dia da Liberdade do que recordar estas obras e os seus autores?

Procuras um livro específico?

Esta é a lista de livros proibidos que não podias ler antes de 1974

Bichos, de Miguel Torga

Aquele que é, possivelmente, o mais conhecido livro de Miguel Torga foi também um dos alvos da censura. Bichos, livro formado por catorze contos, é uma obra onde animais e humanos dividem características e problemas. Cada um dos contos tem uma personagem principal: um animal humanizado ou um humano que é quase animal e todos vivem em luta com a natureza, Deus ou consigo mesmo.

Estes “bichos”, animais e humanos, estão todos na mesma “Arca de Noé”, a terra mãe, irmanados numa luta igual pela vida e pela liberdade. As suas histórias apelam à  interpretação porque representam dilemas muito humanos mas partilhados quer pelos homens quer pelos animais.  O Homem é, neste livro, mais um bicho entre os outros e não ocupa um lugar privilegiado na criação.

Lolita, de Vladimir Nabokov

O clássico Lolita não podia ser lido em Portugal durante o Estado Novo. Mas esta proibição não era exclusiva do nosso país. O romance do autor russo-americano Vladimir Nabokov foi publicado em 1955 em Paris e logo as editoras americanas recusaram a sua publicação. Apesar do seu enredo escandaloso, o livro foi considerado um clássico quase instantaneamente.

A obra combina géneros diferentes, oferecendo aos leitores elementos de romance, erotismo e mistério. Lolita foi transformada em dois filmes, um dirigido por Stanley Kubrick em 1962 e outro por Adrian Lyne em 1997. Além disso, originou várias peças de teatro, balés e óperas.

1984, George Orwell

1984, de George Orwell, é uma obra-prima intemporal, passada numa realidade distópica em que uma sociedade é governada por um Partido totalitário. O Partido vigia de forma tenebrosa a vida dos cidadãos, com recurso à tecnologia.

Foi assim que 1984 introduziu ao mundo o “Big Brother”, o sistema opressivo que tudo vê, controla e censura. Um mundo ficcional inspirado no zeitgeist que tanto preocupava o autor e que nos faz valorizar a liberdade que hoje damos por garantida.

Quando os Lobos Uivam, Aquilino Ribeiro

Quando os Lobos Uivam apresenta uma narrativa que a PIDE simplesmente não podia deixar passar. O livro conta uma história passada em plena Serra dos Milhafres, nos finais dos anos 40. O Estado Novo resolve impor aos beirões uma nova lei: os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e de onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora «expropriados» e utilizados para plantar pinheiros.

Implanta-se um clima de medo. Manuel Louvadeus, o protagonista que havia emigrado para o Brasil anos antes, é confrontado com tudo isto quando regressa à aldeia. Manuel toma então parte da sua gente, pessoas honestas e humildes que trabalham de sol a sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis.

A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia. O Estado não perde tempo a mostrar a sua veia repressiva. A primeira edição da obra seria apreendida pela censura, valendo a Aquilino Ribeiro um processo que se arrastou durante mais de dois anos.

As Mãos Sujas, Jean Paul-Sartre

A filosofia de Sartre, tão discutida, pode ser definida como a apologia da liberdade e da responsabilidade. Ao homem compete inventar a própria vida e destino. Esta filosofia é conhecida por “existencialismo”. Em 1964, Sartre foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, que recusou.

Mãos Sujas, a sua peça mais célebre, nasce da oposição política de um realista e de um idealista. Um chefe revolucionário colabora com os seus adversários; uma fação do seu próprio partido considera esta tática inoportuna e encarrega um jovem idealista de o assassinar. O que acontece a partir daqui é uma demonstração da importância da liberdade.

Capitães de Areia, Jorge Amado

Capitães da Areia é o livro de Jorge Amado mais vendido no mundo inteiro. Publicado em 1937, a sua primeira edição apreendida e queimada em praça pública pelas autoridades do Estado Novo. Em 1944 conheceu nova edição e, desde então, sucederam-se as versões nacionais e estrangeira, e as adaptações para a rádio, televisão e cinema.

Jorge Amado descreve, em páginas carregadas de grande beleza e dramatismo, a vida dos meninos abandonados nas ruas de São Salvador da Bahia, conhecidos por Capitães da Areia.

O Dia Mundial do Livro é já a 23 de abril. O Dia da Liberdade celebra-se dois dias depois, a 25 de abril. Coincidência? Descobre todos estes livros proibidos no sítio do costume, o OLX.


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2 comentários a “Livros proibidos que não podias ler em 1974”

  1. José Pimpão diz:

    Caro escritor olx, este artigo é um lote de baboseiras. Primeiro, muitos deste autores não tinha qualquer proibição na publicação na generalidade das suas obras, em segundo plano, ainda hoje existem obras proibidas, quer uma lista? Gosto da menção, que “…tinha a escrita como profissão…”, coitadinhos… Sabe que escrever é uma “arma”, e quando se tenta abater o que que que seja, é uma via útil – veja os dias de hoje e as barbaridades que se escrevem nos midea e que colocam muita coisa em causa. Sobre a ideologista Marxista, fala de cor porque se soubesse – ainda pode saber, basta ler coisa a sério, qual o objectivo que tinham para este país?… Estava calado. Já agora, vou dar-lhe um conselho, leia o “1984” de George Orwell, iria perceber muita coisa antes de vomitar parvoice só porque é “25 de Abril” e tinha que fazer uma peça…

  2. Zé Pateta diz:

    Pois. Naquele tempo a vida dos Portugueses era um atraso completo e praticamente fechado ao Mundo. Mas, não havia miséria às paletes, nem sem abrigo a cada esquina. Havia trabalho, bem, ou mal remunerado e as pessoas respeitavam-se umas às outras, in lato senso. Nas ex-Provincias Ultramarinas, ainda agora, continua a haver ruas e/ou Avenidas Salazar…Vá lá saber-se porquê . Agora com a Liberdade c,omemorada com Pompa e Circunstância mas, muitíssimo desgastada pelo tempo passado de 47 anos , verificam-se despedimentos a rodos , milhares no caso TAP e outros, como a COELIMA, etc.,…Mas, vivemos felizes com os bandidos que roubaram desde 2011, a torto e a direito , a viver à bordaleza no Brasil e noutras latitudes , sem que sejam chamados à barra dos Tribunais Europeus, já que os nossos estyão entupidos em burocracias.

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